segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cordão de isolamento a imagem da segregação

      

brancos x negros
A imagem acima está sendo compartilhada nas redes sociais e retrata bem no que se transformou o Carnaval da Bahia: a festa da segregação. Do lado de dentro do bloco, os brancos. Do lado de fora: os negros.

Em Salvador você tem duas opções para brincar o Carnaval: ou se gasta uma fortuna para bancar a privatização da folia, ou se vive uma popcorn experience, sendo esmagado do lado de fora da avenida, onde a sensação é a mesma de se sentir um dejeto humano, apanhando da polícia e dos seguranças do cordão de isolamento.

O Carnaval de Salvador se apoia financeiramente em quatro pilares: a venda de abadás (que financia os trios), a venda de camarotes, a transmissão pela TV e o dinheiro público. Este último financia boa parte da festa, já que pagar a segurança e a limpeza não é brincadeira. Claro que a cidade arrecada com impostos, mas nem tudo é uma maravilha.

Na prática é feito um acordo com a classe média: esta paga os trios e em troca o Governo privatiza a rua para os ricos. No caso dos camarotes algo mais sinistro acontece, já que não há licitação para a cessão dos espaços. Tudo é arranjado com os “donos do carnaval”.



bell

Alguns dias atrás o cantor do Chiclete com Banana, Bell Marques, mostrou o que pensam os artistas que fazem parte deste mercado: “A corda sempre existiu. Na minha opinião, em vez de separar, ela acaba unindo. Porque grande parte do povão acaba vendo de graça algo pago por uma parcela.”

Depois da declaração, uma imagem com duplo sentido foi colocada na internet com a frase de Bell, mostrando bem que muita gente já não concorda com esse tipo de pensamento. Semana passada um debate no Terra Magazine com artistas e um professor da UFBA mostrou bem a divisão.

De um lado Daniela Mercury e Durval Lelys e do outro Luiz Caldas e um professor da UFBA. Em certo momento, em off, Daniela teria dito que o melhor seria ir embora se acabassem com os blocos, no que Caldas retrucou: “Duvido que você largue o osso”.

Uma participação no trio elétrico chega a render líquido às bandas algo como 1 milhão de reais, por apenas uma apresentação de algumas horas. Isso é quase o que o U2 recebe por um show.

Artistas de quinto time do mercado musical como Daniela Mercury, recebem no máximo R$ 30 mil de cachê por uma apresentação, que anda cada vez mais rara. A apresentação do Carnaval sustenta sua falta de repertório que o mercado trata de precificar lá embaixo no resto do ano.

 Se ela precisasse ser bancada como nossos artistas, por patrocínios em trios, não receberia mais do que em outras épocas do ano.

Isto é o que chamamos de falha de mercado. O privado (no caso os artistas e donos de bloco) se apropriam da marca do Carnaval de Salvador, construída com dinheiro público ao longo de décadas, e ganham acima do que o próprio mercado precifica como justo.

Mas não são poucos os que começam a se rebelar contra este modelo de carnaval

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